por EMBRAPA / Foto: Felipe Cardoso

A importação de leite do Mercosul pelo Brasil, sobretudo da Argentina e do Uruguai, foi debatida numa concorrida Audiência Pública realizada na tarde desta terça-feira, dia 15, pela Comissão de Agricultura, Pecuária Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.

A Embrapa foi representada pelo pesquisador e chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins, que defendeu que o produto deve ser tratado como assunto de Estado. “É assim em toda parte do mundo. Não há nenhum país que trabalhe com livre comércio no que diz respeito ao leite”, esclareceu.

Doutor em Economia, Paulo Martins disse que o leite exige políticas de governo claramente definidas para que seja possível à cadeia produtiva cumprir algumas missões. A primeira delas é oferecer proteína animal barata para a população; a segunda, por questões sanitárias, é fazer com que o consumidor tenha acesso a um leite de qualidade; e a terceira é a de gerar emprego e renda no interior do Brasil.

Analisando os  dados do censo realizado pelo IBGE em 2006, Martins mostrou que apenas 62 municípios não produzem leite, excluídos os que não comercializam o produto. “Isto demonstra que se o Brasil tivesse que escolher uma cor teria que ser o branco, pela presença maciça do leite em todos os municípios brasileiros. E acima de tudo tem a questão da interiorização do desenvolvimento que o leite promove. O leite é um vetor da interiorização de emprego e renda”, reforçou.

O pesquisador apontou a capacidade de aumento do consumo de leite no País, como um ponto de atração para a entrada de produto importado e de empresas que querem explorar o nosso mercado. “O Brasil está ainda bem aquém da sua capacidade máxima de consumo de lácteos. Estados Unidos e União Europeia já estão no limite, que é algo em torno de 270 litros de leite por habitante por ano”, explicou. Segundo ele, o consumo atual do brasileiro é de cerca de 170 litros anuais. “Nós podemos aumentar o consumo em mais de 100 litros por habitante por ano, além da previsão de crescimento populacional até 2030. Empresas tradicionais do ramo de refrigerantes também começaram a investir em leite, pois reconhecem esse potencial que o País tem em continuar incrementando o consumo desse produto”, afirmou.

Paulo Martins ratificou os dados apresentados pelo representante do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços Herlon Brandão que mostram um crescimento no volume de leite em pó importado, sobretudo do Uruguai. Em 2016, por exemplo, o Brasil importou 145,8 mil toneladas do produto, sendo 40,5 mil toneladas vindas da Argentina e 100 mil toneladas vindas do Uruguai. Oitenta e oito por cento do queijo importado também veio desses dois países.

A relação entre o volume importado e o preço pago pelo produto brasileiro também foi um ponto de convergência entre as duas apresentações. Segundo os dois especialistas, existe uma aderência muito grande entre o volume importado e a variação de preço. “O nosso custo de produção é mais alto, o que torna a diferença entre o preço do mercado internacional e o preço local muito elevada”, esclareceu Martins, mostrando que a diferença do preço interno em relação ao mercado internacional faz aumentar a importação.

Segundo ele, nem mesmo o preço interno elevado foi estímulo para que o produtor aumentasse a oferta. “Uma coisa é preço, outra coisa é custo, e o que vale na verdade é a margem de lucro, o que demonstra que as atuais condições são pouco favoráveis aos produtores de leite brasileiros, comparado com o preço do mercado internacional”, afirmou.

Também debateram o assunto vários deputados, além de representantes dos trabalhadores e dos produtores rurais, do Ministério da Agricultura e de outros ramos da cadeia produtiva do leite.

Assista aqui o vídeo da Audiência Pública

Rose Lane Cesar (Mtb 2978)
Secretaria de Comunicação

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