Projeto de instalação de um novo porto abre polêmica em São Francisco do Sul
A instalação de um novo porto em São Francisco do Sul, entre as praias do Forte e do Capri, tem sido alvo de polêmica e discussão entre moradores, representantes de órgãos ambientais, sindicatos de trabalhadores portuários, empresários e políticos da região.
De um lado, parte da população se mostra preocupada com as consequências ambientais e sociais que o empreendimento orçado em US$ 1 bilhão – cerca de R$ 3,13 bilhões pela cotação atual – pode trazer ao município. Do outro, há os que defendem o projeto por causa da expectativa de crescimento econômico, com geração de emprego e renda.
O local escolhido para a construção, a Ponta do Sumidouro, um local bastante procurado por surfistas e pescadores, é um dos principais motivos da discórdia. Com restingas e mangues praticamente intocados, ambientalistas argumentam que a área pode ser degradada com a instalação de um porto.
Por enquanto, o projeto sequer passou pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma), que analisa o estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental (EIA/Rima) enviado pela WorldPort, empresa especializada em projetos de infraestrutura de transporte de cargas e idealizadora do Porto Brasil Sul.
O órgão informa que precisa checar se o EIA/Rima está dentro das regras do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para depois deliberar sobre o pedido de licença ambiental prévia (LAP), feito em outubro do ano passado. O processo é demorado e pode levar mais de quatro meses. Devido à importância e à complexidade do projeto, quatro analistas técnicos em gestão ambiental da Fatma estudam o documento.
Por ora, a WorldPort garante que a questão ambiental vem recebendo cuidado especial no projeto e que foram elaborados todos os estudos técnicos necessários para definir a melhor forma de desenvolver o empreendimento.
O projeto prevê a construção de sete terminais e oito berços de atracação na orla da praia do Sumidouro.Para se ter uma ideia, a área de operação total prevista para quando o novo porto estiver concluído (1,1 milhão de m²) equivale a mais de sete vezes o tamanho do Porto Itapoá hoje (150 mil m²).
Segundo Marcus Barbosa, diretor da WorldPort, o porto vai impulsionar o desenvolvimento do município, com uma movimentação projetada em 20 milhões de toneladas de mercadorias por ano. Ele explica que reuniões de esclarecimento estão sendo feitas com a comunidade e que o porto só entrará em operação após a construção de acessos próprios, separados dos existentes nas praias do Forte e do Sumidouro, a partir do entroncamento com a BR-280.
Para convencer a população da importância do projeto, a WorldPort também destaca os números. De acordo com a empresa, na fase de construção, o Porto Brasil Sul vai gerar três mil empregos diretos, com foco na contratação de mão de obra no município. Além disso, diz a WorldPort, a arrecadação de tributos decorrentes dos impactos dos investimentos realizados no projeto será de R$ 3,7 bilhões até 2030.
Meio ambiente e falta de estrutura preocupam
Para os integrantes do movimento contrário à instalação do porto, não é só o lado financeiro que está em jogo. Há preocupação em relação aos possíveis danos ambientais causados pelo futuro empreendimento.
Conforme Anderson Peretti, presidente da Associação Comunitária da Enseada do Acaraí, os manguezais das praias do Forte e do Capri são um berçário natural de inúmeras espécies marinhas e serão muito prejudicados se o projeto de construção for autorizado.
– Imagina como isso aqui vai ficar quando começarem a construir o porto? Vão destruir um ambiente que demorou milhares de anos para se formar – argumenta Peretti, apontando para as placas de sinalização existentes no local, que indicam ser área de preservação permanente.
A presidente da Associação Movimento Ecológico Carijós (Ameca), Nilse Prim Borges, reforça que o impacto da construção de um empreendimento desse porte pode ser irreversível, pois vai mexer com todo um ecossistema.– Temos que mostrar à população os impactos ambientais que podem acontecer.
Eles (os empreendedores) terão de aterrar uma área enorme para instalar o porto. E de onde virá e por onde passará toda essa terra? – indaga.
Organizador do primeiro encontro de moradores contrários à instalação do porto, Tiago Tavares Constante afirma estar muito preocupado com o futuro empreendimento. Para ele, a praia do Forte é um local singular em São Francisco, com um ecossistema diferenciado que encanta moradores e visitantes.
– Será um absurdo permitir a construção de um porto neste local. Não é um bom negócio destruir o que temos de melhor e mais precioso para beneficiar meia dúzia de pessoas – salienta.
Os trabalhadores do Porto de São Francisco do Sul também são contrários à chegada do novo empreendimento. Vander Luiz da Silva, presidente da Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Avulsos e Demais Sindicatos de Trabalhadores da Orla Portuária de São Francisco do Sul (Intersindical), diz que a promessa de abertura de três mil empregos não é verdadeira. Segundo ele, is